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terça-feira, 16 de abril de 2013

A felicidade é necessária?


A felicidade é necessária?

Décio Cançado










Quanta coisa já se escreveu sobre a felicidade, quantos filósofos já se debruçaram sobre o assunto, quantas pessoas já a perseguiram toda a vida, sem nunca conseguir alcançá-la, pelo menos não integralmente.

Sobre o tema, o poeta Vicente de Carvalho conseguiu nos dar uma noção, próxima da coerência, quando compôs: “Essa felicidade que supomos, árvore milagrosa, que sonhamos toda arreada de dourados pomos, existe, sim, mas nós não a alcançamos, porque está sempre apenas onde a pomos, e nunca a pomos onde nós estamos.” De maneira semelhante o filósofo Rousseau nos diz que: “Em vão buscaremos ao longe a felicidade, se não a cultivarmos dentro de nós mesmos.”

“Felicidade é uma palavra pesada. Alegria é leve, mas felicidade é pesada. Diante da pergunta “Você é feliz?”, dois fardos são lançadas às costas da pessoa. O primeiro é procurar uma definição para a felicidade, o que equivale a rastrear uma escala que pode ir da simples satisfação de gozar de boa saúde, até a conquista da bem-aventurança. O segundo é examinar-se, em busca de uma resposta. Nesse processo de busca, depara-se com armadilhas. Caso se tenha ganhado um aumento salarial no emprego, no dia anterior, o mundo parecerá belo e justo; caso se esteja com dor de dente, parecerá feio e perverso. Mas a dor de dente vai passar, assim como a euforia pelo aumento de salário e, se há algo imprescindível, na difícil conceituação de felicidade, é o ‘caráter de permanência’. Uma resposta consequente exige colocar na balança a experiência passada, o estado presente e a expectativa futura. Dá trabalho, e a conclusão pode não ser clara.

Os pais de hoje costumam dizer que importante é que os filhos sejam felizes. É uma tendência de pensamento que se firmou, influenciada pelas teses de liberdade dos anos 60. Não interessa muito se entrem na faculdade, que ganham muito ou pouco dinheiro, que sejam bem-sucedidos na profissão. O que os pais esperam, no final das contas, é que os filhos sejam felizes.
Ora, felicidade é coisa grandiosa. É esperar, no mínimo, que o filho sinta prazer nas pequenas coisas da vida. Se não for suficiente, que consiga cumprir todos os desejos e ambições que venha a abrigar. Se ainda for pouco, que atinja o êxtase místico dos santos”. É um “dever de casa” muito pesado para a pobre criança, que terá que caminhar muito na vida, e enfrentar desafios muito diversificados que, muitas vezes, não dependem dela.

Pesquisas recentes pelo mundo afora têm sido publicadas e analisadas através de livros que demonstram, com bastante lucidez e segurança, a relação entre as políticas públicas, o poder aquisitivo, a riqueza e a felicidade, ou sobre ‘satisfação’, como mais modestamente, às vezes, são chamadas. Povos de países ricos não se consideram felizes, apesar de terem uma ótima renda e acesso a todas as formas de conforto e tecnologia. A conclusão de um autor é que, se o crescimento econômico não contribui para aumentar a felicidade, “por que trabalhar tanto, arriscando desastres ambientais, para continuar dobrando e redobrando o PIB?”

Outra autora constatou que os povos de alguns países não tão ricos, e pouco desenvolvidos, consideram-se mais felizes do que outros de melhor situação econômica e financeira. Embora embaladas em números, em pesquisas, tais conclusões apenas reforçam o antigo e simplório conceito de que o dinheiro não traz felicidade (mas ajuda, de acordo com os mais espertos).
O propósito dessas pesquisas é convidar os governantes a afinar seu foco, visando como prioridade, o bem-estar da população, tais como, estender o alcance do seguro-desemprego, proporcionar a estabilidade econômica de forma a garantir o emprego, facilitar o acesso a medicamentos contra a dor e a depressão, e proporcionar atividades esportivas, artísticas e de lazer para as crianças. Por exemplo, as pesquisas apontam a perda de emprego como mais causadora de infelicidade do que o divórcio.
Para nossa reflexão, o poeta Mário Quintana nos brinda com uma divertida poesia sobre o assunto: “Quantas vezes a gente, em busca da ventura, procede tal e qual o avozinho infeliz: “Em vão, por toda parte, os óculos procura tendo-os na ponta do nariz!”
Se você ainda a está procurando, não desista! Muitas são as formas, diversos são os caminhos, e, ao que nos parece, ela não é um destino, mas é o próprio caminho. “Cada dia é uma vida inteira”. (Baseado em texto de Roberto Pompeu de Toledo)

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