Como aproveitá-la? Será que há receita? Coloque na forma da vida um colo de mãe; um abraço no pai; o almoço de domingo na avó; a soneca do fim de tarde no sofá; sorrisos e mais risos com os amigos; menos selinhos e mais beijos. Esses à gosto: escondidos, longos ou ardentes, ou as três coisas juntas.
Adicione também um copo de coragem com atitude, com uma pitada de ousadia. Unte a forma com paixão. Enquanto assa, aprecie a beleza da natureza, suas cores e sons; note as incontáveis formas de vida que nela existem; sinta o perfume das flores; se importe mais com as pessoas, dedique-se a elas; sexo sempre e por prazer, por obrigação, jamais, pois Jesus nos ensinou “Seja bendito o teu manancial, e alegrar-te com a mulher da tua mocidade”. Assim, escolha uma música lenta e dance com aquela pessoa; contemple o pôr do sol e tome um bom banho de chuva no verão.
Acrescente ainda a leitura de um bom livro e o recomende a um amigo, como “O Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry, “Dom Quixote” de Cervantes ou “Olhai os lírios do campo” de Érico Veríssimo, pois tais obras possuem uma sabedoria ímpar. E sabe aquilo que tens medo? Encare, supere! Além disso, preocupe-se menos com o tempo e se entregue mais ao momento, isto é, se puder não carregar relógio, o faça, afinal, preocupar-se é concentrar-se em algo que ainda não aconteceu.
E para que a vida possa ser aproveitada em sua plenitude, a cobertura deve ser de amor, cubra tudo com esse maravilhoso sentimento, pois é essencial. Normalmente, não temos medo de amar, mas, sim, de nos machucar, uma vez que é um sentimento extremo e complexo. Contudo, é gostoso de sentir, sendo que, enquanto se está amando, é bom, intenso e tempera a vida de um jeito especial. Parece que nos eleva e faz a caminhada valer a pena. Dessa forma, a vida possui mais sabor. Sabor de felicidade.
Se queimar ou não crescer, caso não dê certo de alguma forma, porque isso pode acontecer, lembre-se: você é o cozinheiro e, portanto, pode começar outra vez. Renove os ingredientes e jogue fora, livre-se do que fez não dar certo da primeira vez, pois como elucidou Cecília Meireles, “A vida só é possível reinventada”. Ou seja, receita correta e única não há, mas é preciso procurar a doçura do viver. E a vida não se torna vã.
Ana Caroline dos Santos Ferreira (jornal Correio Mariliense)
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